domingo, 5 de setembro de 2010

Um caminho que há tempos esquecemos...


Todos sabem do fascínio causado pelo esporte nas pessoas. É uma manifestação cultural de grandes proporções.

O desporto basquetebol sempre teve grande destaque no mundo inteiro, primeiro sendo propagado pelos Norte- americanos, principalmente, através da bilionária NBA (National Basketball Association) e depois se espalhando e arrastando amantes a nível mundial.

No Brasil não foi diferente. Em pouco tempo esse esporte cheio de plasticidade e precisão se tornou o segundo mais apaixonante em nosso país, atrás, apenas, do imbatível futebol. O basquete brasileiro nos acostumou a glórias e a lançar grandes jogadores como os bons e velhos Oscar e Guerrinha... Entre outros que a história nos mostra. Mas na década de 90 vimos essa paixão diminuir assim como o brilho do nosso basquetebol. Ficamos de fora de várias olimpíadas, péssimas atuações em mundiais, problemas sérios e divergências na Confederação Brasileira de Basquetebol (CBB). Comparando ao futebol não é muito diferente.

Em relação aos problemas internos, eu ainda moleque, achava estranha a ausência de nossos maiores craques da seleção. Aqueles que atuavam na Liga americana, feito Nenê, Varejão, Leandrinho. Jogadores que com toda certeza fariam a diferença.

Comecei a perceber que alguns conceitos precisavam ser mudados. O basquetebol se tornou moderno demais para pessoas que viviam um eterno retrocesso! Era necessária uma mudança profunda no "jogar brasileiro" e, principalmente, no espírito desse basquete. O comando da seleção me parecia meio ultrapassado, não pela incapacidade dos técnicos brasileiros, mas pela forma como ainda encaram o basquete. Ele evoluiu e nós não!

Nos últimos dez anos assistimos um vizinho/irmão ou hermano, crescer no cenário mundial de forma arrebatadora e nós só podíamos aplaudir. Fomos brindados com uma nova maneira de jogar basquete. A Argentina fazia história vencendo olimpíadas e derrotando os "Donos do mundo" (americanos). E o Brasil? O que fazia? Acredito que assistíamos tudo pela televisão!

Para nossa surpresa pousou em nossas quadras um cidadão chamado Rubén Magnano. Para quem respira basquete lembrará que este bigode vencedor era o homem que levara a Argentina ao topo. Agora, no Brasil, Rubén tinha um grande desafio, talvez maior que aquele da Argentina, já que nossos vizinhos já tinham um basquete de base estruturado. Magnano tinha de mudar o "jeitinho brasileiro" de jogar basquete. Tornar nossa seleção novamente motivo de orgulho.

O ano de 2010 está sendo ano de campeonato mundial de basquetebol, ótimo teste para entendermos o dedo de um campeão! Nos primeiros jogos não vimos muita diferença já que os adversários não apresentaram grande resistência. Na terceira rodada encaramos o "Dream team", bem verdade que sem as principais estrelas, mas era composto por jogadores da NBA, um grande time por sinal. Nessa partida pude comprovar que já não somos os mesmos. Os mesmos mecânicos, os mesmos medrosos, os mesmos "burocráticos". Somos uma equipe capaz de vencer qualquer um novamente.

Em um jogo memorável, em que os americanos venceram por dois pontos de diferença e que a imprensa americana classificou como "péssima" a atuação de sua seleção (arrogância lhes é própria), entendi que a maior mudança não teria sido tática ou técnica, mas sim de atitude! E não foi o basquete moderno que nos solicitou. Ter atitude de vencedor é próprio de um povo feito o brasileiro. Precisávamos de um argentino para nos mostrar o caminho que há tempos havíamos perdido a direção!

sábado, 28 de agosto de 2010

Esporte, espetáculo e valores éticos


O esporte é o maior fenômeno cultural da atualidade, capaz de reunir e integrar diversas nações e diferentes concepções de vida, ao menos por um curto espaço de tempo. Este fenômeno se tornou um atrativo “natural” para grande parte da população mundial, de maneira que não imaginamos o mundo sem o “espetáculo esportivo”!

Mas, enxugando nossa ideia sobre o esporte, o que realmente atrai as pessoas é o esporte espetáculo ou de rendimento. Essa “modalidade” de esporte é a que acompanhamos na televisão ou qualquer outra mídia. Este esporte cheio de “glamour” que acompanhamos no dia a dia é uma modalidade especial, em que o conceito de saúde se modifica, onde muitas vezes há ausência de saúde!

Esclarecendo as coisas: um atleta de alto nível é pressionado a alcançar resultados expressivos todos os dias, por uma série de questões econômicas que envolvem patrocínios e contratos milionários. Muitas vezes, para alcançar este “êxito”, o treinamento se torna massacrante, indo de encontro aos princípios fisiológicos humanos, acarretando em lesões e outros males.

Este, porém, ainda não é o ponto principal a ser discutido. Mesmo nesta “modalidade” (rendimento) ou nesta maneira de se encarar a prática esportiva, há uma ética e alguns valores que devem ser exaltados dentro da competição. Isto é inegável. Valores éticos como o respeito ao adversário, o famoso “fair play” (jogo limpo) ou a valorização do esforço do adversário para obtenção de uma vitória, mesmo que não acarrete em vitória, são elementos necessários para a perpetuação e manutenção do encantamento na prática esportiva.

Recentemente um fato bastante “curioso” chamou-me a atenção. No mês de agosto do corrente ano aconteceu o Pan-Pac (Pan-Pacífico), uma competição de natação, que reuniu grandes nomes do esporte mundial e foi realizada na Califórnia- EUA. O Brasil estava muito bem representado pelo fantástico César Cielo e seus companheiros. Lá também estavam fenômenos como Michael Phelps e Natan Adrian.

Era uma competição de alto nível, mas o que mais me alertou foi à declaração de Cielo após uma derrota. Segundo o brasileiro, aquela competição não estava sendo muito boa para ele, não eram seus melhores dias e para seus adversários era a melhor competição da vida deles! Antes de qualquer coisa, quero dizer que admiro o talento do nadador, mas ficou bastante clara a arrogância dele para com os adversários. Fácil perceber que ele acredita que a qualquer momento poderá vencer os “oponentes” e que ele sempre será “o melhor”.

A crítica que faço é sobre ética e valores no esporte. Seja esporte para o lazer, saúde ou rendimento. Valorizar a vitória é algo bastante fácil e, nos momentos de auge, bastante exaltado, porém, mais nobre é valorizar a superioridade do adversário. Aceitar a derrota é necessário para alcançar o crescimento e a superação. O caminho da vitória passa pela humildade e por saber reconhecer que naquele momento o outro foi melhor.

César Cielo me decepcionou neste ponto, quando foi arrogante ao transparecer que poderia vencer na hora que quisesse. Isso não me pareceu ético. Talvez a pouca idade tenha influenciado, porém, ele precisa aprender a respeitar o adversário. Não entendam que deve ser perdedor, já que a vitória é tão importante no esporte de rendimento. Para muitos perder é algo “miserável”. Acreditam que quem perde não tem valor. Não falo disso. Refiro-me ao fato de que aceitar uma derrota é o passo mais importante para aprender a ser vencedor.

Entendemos que até mesmo o esporte de rendimento, que é movido por cifras e zeros incontáveis, também carrega consigo um legado de valores éticos que devem ser levados em consideração. É necessário entender que a distância entre a derrota e a vitória é muito curta. São milésimos de segundos que nos tornam homens capazes de crescer com uma derrota ou homens incapazes de valorizar o êxito alheio e, assim, nos manter na mediocridade.